quarta-feira, 29 de setembro de 2010

UM CIDADÃO JOÃO


Eram duas da madrugada. João Alberto chegava em casa, vindo de uma dessas festas que a sua empresa promove periodicamente para reunir os funcionários e manter um clima fantasioso de coletividade. Bastante cansado, pois havia trabalhado o dia todo e não tinha vindo em casa. Só pensava em tomar um banho quente e dormir, quando de repente o telefone tocou. Era o seu chefe.

“João?”
“Pois não, patrão,” disse ele, com um tom de voz ameno que disfarçava sua raiva “algum problema?”
“É que nós vamos precisar de você aqui amanhã para receber uma mercadoria. Pode ser?”
“É, bem... sim, sim, pode contar comigo.”

Desligou o telefone. Começou a achar burrice o que tinha feito. O único dia de folga que possuía, e o patrão ligava pedindo-o que fosse trabalhar. Aquele maldito ganancioso, egoísta. Só pensa nele mesmo. Não se importa com os outros, que se danem. Tudo em nome do capitalismo, pensava consigo mesmo.

“Ah, eu não vou.” disse convicto. E foi deitar-se. Quando fechou os olhos, hesitou e disse:
“Eu vou, mas vou chegar atrasado.” E se virou novamente.

Começou a pensar na situação: ir ou não ir? Seu único dia de folga e não poder nem descansar? Será que ele merecia aquilo? Pensou na mulher, nos filhos. Há quanto tempo não conversava com eles. Não saíam mais: a rotina dele era casa-trabalho, trabalho-casa. Estava de saco cheio.
Mais alguns instantes, abriu os olhos novamente e disse:

“Pensando bem, não vou mesmo. Ele nem vai pagar hora extra. Eu vou mesmo é descansar.”

E dormiu.

Às 6 da manhã seu relógio despertador tocou. Levantou-se, tomou banho, vestiu-se, tomou café e foi trabalhar. Chegou exatamente na hora. Afinal, ele era só mais um empregado.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O PALHAÇO


Agradeço a Vítor Pirralho pela inspiração.


Mais uma moeda tilinta na caneca de alumínio que ele carrega.
A multidão dá alguns trocados por alguns minutos de diversão.
A cara do palhaço ri.
Agradece aquelas moedas, pois vão completar o ordenado do mês.
Três filhos, um deles muito doente, dormem em meio aos ratos que disputam restos de comida.
Barraco de tábuas, quarto-sala-banheiro-cozinha em 4 metros quadrados.
Tudo junto.
Depois da apresentação, muitos voltam para os seus lares.
Ar condicionado, frigobar, carros importados.
O contraste.
O coração do palhaço chora.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

UM MINUTO...

Baseado em informações das últimas eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) calcula que o eleitor brasileiro levará, em média, 1 minuto e 30 segundos para votar no próximo dia 3 de outubro. - Jornal O GIRASSOL

Apenas um minuto para escolher o seu futuro...

Um minuto que pode mudar completamente a sua vida...

Não dá tempo para pensar muito.

Nem precisa.

Primm!

Agora já foi.

Devia mesmo era ter pensado bem antes.








AINDA DÁ TEMPO!!

SURDEZ VOLUNTÁRIA




"A política baseia-se na indiferença da maioria dos interessados, sem a qual não há política possível." Paul Valery







Eles falam na TV, no rádio, na Internet.
Ninguém presta atenção no que eles dizem.
4 pontos de audiência nos debates.
Denúncia de corrupção, de quebra de sigilo. Não faz diferença.
Ninguém tá nem aí.
E pra quê, se nada muda?
Pra que dar ouvidos ao que não se acredita?
Infelizmente é assim.
O povo não sabe as propostas da educação, nem da saúde, tampouco da segurança pública.
Agricultura?! O que é isso?
O povo só espera o prato de comida na mesa.
Por isso vota.

domingo, 12 de setembro de 2010

ALIANÇA


Minha mulher esses dias pediu que eu comprasse uma aliança.
Segundo ela, no casamento, o anel simboliza a união entre duas pessoas, o voto de fidelidade, o respeito que cada um deve ter com o outro.
Venho vendo várias alianças sendo feitas nesse tempos de eleições.
Muitos candidatos buscando o apoio de outros, enquanto detonam seus adversários.
Alguns deles trabalharão juntos nos próximos anos.
Esses "casamentos" não vão muito longe não...

Abre o olho eleitor!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mais uma das eleições


O Brasil gaba-se de possuir as eleições mais seguras do planeta. As urnas eletrônicas, diz o governo, vieram para facilitar (e também transparecer) o processo eleitoral. São motivo de orgulho para o país. Países de primeiro mundo invejam o nosso sistema, importando urnas para realizarem suas eleições. Nos Estados Unidos o negócio é tão complicado que eu li e não consegui entender. Aqui digitou a sequência e primmm! Tudo pronto.

Para tornar a coisa ainda mais segura (!), surge um novo apetrecho: a urna biométrica. Agora o cidadão põe o dedão na máquina, que reconhece o eleitor e libera a urna. Tcharam! Depois que a escolha é feita, é só confirmar. Não há riscos... Tem até escrita braille nas teclas para facilitar a votação para os deficientes visuais.

O pior é que muitos eleitores são cegos, surdos e mudos. Não estou me referindo aos verdadeiros deficientes físicos. E sim aos saudáveis que não percebem a palhaçada em que se tornaram as nossas eleições.

Enquanto inventam meio mundo de parafernálias tecnológicas para "tornar a votação mais interessante", que mais uma vez distraem o eleitor (que já citei em um post anterior), muitos fichas sujas estão por aí pedindo voto. Um exemplo: Collor. A Ficha Limpa conseguiu barrar alguns, mas é possível recurso por parte do candidato. E sendo inocentado, poderá assumir o cargo pretendido se eleito for.

Ô maldita obrigação eleitoral!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PREJUÍZO



Vi hoje na Tv mais um caso de um falso médico que, irresponsavelmente, matou uma mãe e uma filha na hora do parto.

E o pior: o dono da clínica onde ele trabalhava (porque agora foi preso) apoiava o cara, assinando os prontuários dele.

A imprensa cai em cima, acusando de todo jeito o descaso do país com a saúde...

Aí eu lembro quantos "falsos professores" temos por esse Brasilzão de meu Deus e ninguém diz nada...

Quantas crianças e adolescentes vão morrendo todos os dias na ignorância, inconscientemente...

Descobri a diferença: é que na educação o prejuízo é a longo prazo.

sábado, 4 de setembro de 2010

DISTRAÇÃO PERIGOSA



É engraçado que naquelas horas em que você tenta se concentrar pra fazer alguma coisa normalmente surge alguém ou algo pra atrapalhar. Pode ser o som do carro do vizinho, uma propaganda na televisão, uma festa na rua ao lado, sua mulher pedindo ajuda pra fazer alguma coisa, seu filho querendo brincar... Enfim, qualquer coisa acontece (lógico que nem sempre intencionalmente) para desviar a atenção. Inclusive o horário eleitoral gratuito.

Muitas pessoas param em frente a TV para ouvir as propostas dos candidatos, ou simplesmente para se distrair com as propagandas - algumas verdadeiramente cômicas. Defensores de diversas classes, desde frutas (!) a antepassados ilustres. Esse dias vi um candidato de São Paulo dizendo ser descendente de Zumbi dos Palmares (!). Tiririca, com o seu "pior que tá, não fica" é sucesso nacional na mídia televisiva, impressa ou eletrônica. Outros promovem sua imagem com as famosas passeatas para mostrar que possuem intimidade com o povo. Apertam a mão, tiram fotos, abraçam senhoras, beijam crianças, etc. Vale tudo para chamar a sua atenção.

Mas, infelizmente, em muitos casos essas artimanhas só são usadas para distrair a atenção do eleitor do que realmente interessa: programas e propostas de trabalho. Muitos sabem o nome, número, partido e até os jingles de diversos candidatos, mas não têm nenhuma ideia do que eles pretendem fazer. Para a grande maioria, isso não importa. A distração temporária basta, já que somente daqui a 4 anos ele voltam. Em muitas cidades pequenas do Brasil (e em especial do Tocantins) não acontece muita coisa. Durante o período eleitoral há muito movimento. É a oportunidade que muitas pessoas veem para conseguir alguma coisa, nem que seja distração. Só que nesses casos ela pode ser bastante perigosa.

Uma escolha errada pode comprometer o desenvolvimento de um país. Atenção é fundamental nessa época em que todos aparecem sorrindo. Se a gente se distrair demais, é capaz de esquecer que eles passaram e não fizeram nada por aqui, além de rir da nossa cara.