segunda-feira, 26 de julho de 2010

INVISIBILIDADE

Esse dias tivemos mais uma (mais uma!) triste notícia na TV: o filho de uma atriz global foi atropelado e morto no Rio de Janeiro (o Rio de Janeiro continua lindo.../) Pois é. Filho de gente famosa merece destaque na mídia. Todos os dias repórteres apresentam novidades sobre as investigações, que querem saber: tava pegando racha ou não tava? Crime doloso ou culposo? Porque a polícia não o levou pra delegacia? Pediram propina ou não? Enfim, o bafafá é grande e todo mundo (mais uma vez) só espera que a verdade seja apurada e o responsável pague a pena justa.
A gente só espera.

Agora, devemos considerar o fato de o rapaz ser famoso, pelo menos lá na terra dele. E se fosse você? Ou alguém da sua família? Melhor: e se fosse alguém sem família? E se fosse um "ninguém"? Ora, mas não existe isso de "ninguém", uma voz poderia falar. Se fosse assim, com certeza não teríamos essa divulgação toda, nem essa cobrança. Talvez pelos próprios parentes, mais nada. E que não pode contar nem com eles?

As ruas desse país estão cheias de gente invisível. É, sim. Gente invisível. Elas não são invisíveis porque a gente não as vê, mas porque não queremos vê-las. Os garis, que mantém a cidade limpa. Os mendigos, os trabalhadores, os pivetes que cheiram cola... É só prestar atenção. O trânsito mata gente todo dia, que acabam virando número. Continuam invisíveis pra quem governa esse país. Tem gente também que se faz de invisível pra poder fugir da culpa. Mas aí, quando a TV bate em cima, acaba sendo visto.

Mais um filhinho de papai comete um vacilo e tira uma vida. Dessa vez, pra todo mundo ver. Não tem exemplo que dê jeito a quem não enxerga a si próprio.

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