quinta-feira, 13 de junho de 2013

A ETERNA NECESSIDADE DE PERGUNTAR*


            Já há algum tempo tento ingressar em um curso de pós-graduação. Como professor da educação básica, tenho a noção de que as coisas não andam muito bem, exigindo cada vez mais do professor uma postura mais provocadora do pensamento crítico. Sempre acreditei que seja possível transformar a cultura que nos cerca, que visa prioritariamente formar, como já disse Gerardo Mourão, homens que sabem muito sobre muito pouco. Nesses anos de sala de aula, presenciei situações deveras inusitadas que me causaram um impacto positivo e reafirmaram o mesmo ideal adquirido nos corredores da faculdade e nos acalorados debates durante o curso de graduação: temos sim, a capacidade de sermos melhores.
            Desde os primórdios da humanidade, tentamos – e de certa forma, conseguimos – evoluir e nos apresentar melhores a cada nova geração. Os gregos certamente foram a civilização que mais contribuiu para o mundo ocidental com o que hoje chamamos de progresso. Seu legado nos deixou uma herança de valor inestimável: muitas das concepções que temos sobre o mundo se devem, em grande parte, à filosofia de Sócrates e Aristóteles, aos cálculos matemáticos de Euclides e Pitágoras, a noção de República de Platão, às grandes inspirações poéticas de Homero, entre outras.
            Através do questionamento dos filósofos de épocas posteriores, de escolas diferentes, influenciados ou não pela fé no sobrenatural é que chegamos ao ponto onde estamos. Nietzsche, pelas palavras do seu profeta Zaratustra, afirma a necessidade do “refinamento cultural” do homem, como meio de superar as suas próprias limitações (que na visão dele eram causadas principalmente pela doutrina cristã), desprendendo-se de dogmas e decidir de maneira eficaz o seu próprio destino. A possibilidade de se alcançar esse refinamento é infinitamente grande, dada a capacidade humana de criar e recriar a História. Somente o homem, dentre todos os seres vivos que habitam a Terra é que possui a habilidade de refletir sobre suas ações e propor a si próprio alternativas para a construção de uma nova estrutura de relações sociais. Darwin, ao apresentar ao mundo sua Evolução das Espécies, foi erroneamente interpretado, mas após séculos de pensamento vinculado ao Cristianismo – e unicamente a ele, pelo menos no mundo ocidental – tocou no ponto chave: o ser humano supera as intempéries do tempo e consegue se readaptar a novos tempos.
            O saber gera o poder, que em muitas ocasiões distorceu a noção que temos entre o que é certo e o que é errado. Na era pós-moderna, no século passado, tal dicotomia uma das maiores barbáries da humanidade: a II Guerra deixou milhões de mortos, prejuízos incalculáveis e assim como em outras épocas, a dúvida sobre os destinos da raça humana. Mais uma vez, mostramos nossa natureza intrínseca de superação: dos escombros de Hiroshima e Nagasaki, renasceram duas grandes potências mundiais. Nossa mente criativa produziu versos de esperança na voz do mais famoso dos rapazes de Liverpool, nos induzindo a imaginar um mundo diferente. Outras tragédias se sucederam após 1945, mas ainda continuamos de pé.

            Chegamos ao terceiro milênio na velocidade dos megabytes. Rapidez é a palavra de ordem. Objetividade tornou-se obrigação. O conhecimento, outrora privilégio das elites, agora é acessível a toda a humanidade. Contudo, as facilidades que a tecnologia nos proporciona retomou o questionamento: e partir de agora? Para onde devemos olhar de modo que continuemos nos superando a cada dia que passa? Em um mundo cujos valores se tornam confusos nesse emaranhado de informações desencontradas, como podemos nos aprimorar para evitar erros de outros tempos? O grande desafio agora é saber que tipo de ser humano pretendemos formar para as próximas gerações e que legado deixaremos a elas.  É chegada a hora de repensar uma “nova velha educação”, aos moldes da Akademeia grega, que instigue no ser humano novos direcionamentos, para que mais uma vez, possamos provar a nós mesmos que temos a capacidade e a obrigação de sermos melhores.

*Ensaio produzido para o curso de pós-graduação latu sensu em Ensino de Língua Inglesa da UFT - Universidade Federal do Tocantins - Campus Porto Nacional.

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