Já há algum tempo tento ingressar em um curso de
pós-graduação. Como professor da educação básica, tenho a noção de que as
coisas não andam muito bem, exigindo cada vez mais do professor uma postura
mais provocadora do pensamento crítico. Sempre acreditei que seja possível
transformar a cultura que nos cerca, que visa prioritariamente formar, como já
disse Gerardo Mourão, homens que sabem muito sobre muito pouco. Nesses anos de
sala de aula, presenciei situações deveras inusitadas que me causaram um
impacto positivo e reafirmaram o mesmo ideal adquirido nos corredores da
faculdade e nos acalorados debates durante o curso de graduação: temos sim, a
capacidade de sermos melhores.
Desde os primórdios da humanidade, tentamos – e de certa
forma, conseguimos – evoluir e nos apresentar melhores a cada nova geração. Os
gregos certamente foram a civilização que mais contribuiu para o mundo
ocidental com o que hoje chamamos de progresso. Seu legado nos deixou uma
herança de valor inestimável: muitas das concepções que temos sobre o mundo se
devem, em grande parte, à filosofia de Sócrates e Aristóteles, aos cálculos
matemáticos de Euclides e Pitágoras, a noção de República de Platão, às grandes
inspirações poéticas de Homero, entre outras.
Através do questionamento dos filósofos de épocas
posteriores, de escolas diferentes, influenciados ou não pela fé no
sobrenatural é que chegamos ao ponto onde estamos. Nietzsche, pelas palavras do
seu profeta Zaratustra, afirma a necessidade do “refinamento cultural” do
homem, como meio de superar as suas próprias limitações (que na visão dele eram
causadas principalmente pela doutrina cristã), desprendendo-se de dogmas e
decidir de maneira eficaz o seu próprio destino. A possibilidade de se alcançar
esse refinamento é infinitamente grande, dada a capacidade humana de criar e
recriar a História. Somente o homem, dentre todos os seres vivos que habitam a
Terra é que possui a habilidade de refletir sobre suas ações e propor a si
próprio alternativas para a construção de uma nova estrutura de relações
sociais. Darwin, ao apresentar ao mundo sua Evolução
das Espécies, foi erroneamente interpretado, mas após séculos de pensamento
vinculado ao Cristianismo – e unicamente a ele, pelo menos no mundo ocidental –
tocou no ponto chave: o ser humano supera as intempéries do tempo e consegue se
readaptar a novos tempos.
O saber gera o poder, que em muitas ocasiões distorceu a
noção que temos entre o que é certo e o que é errado. Na era pós-moderna, no
século passado, tal dicotomia uma das maiores barbáries da humanidade: a II
Guerra deixou milhões de mortos, prejuízos incalculáveis e assim como em outras
épocas, a dúvida sobre os destinos da raça humana. Mais uma vez, mostramos
nossa natureza intrínseca de superação: dos escombros de Hiroshima e Nagasaki,
renasceram duas grandes potências mundiais. Nossa mente criativa produziu
versos de esperança na voz do mais famoso dos rapazes de Liverpool, nos
induzindo a imaginar um mundo diferente. Outras tragédias se sucederam após
1945, mas ainda continuamos de pé.
Chegamos ao terceiro milênio na velocidade dos megabytes.
Rapidez é a palavra de ordem. Objetividade tornou-se obrigação. O conhecimento,
outrora privilégio das elites, agora é acessível a toda a humanidade. Contudo,
as facilidades que a tecnologia nos proporciona retomou o questionamento: e
partir de agora? Para onde devemos olhar de modo que continuemos nos superando
a cada dia que passa? Em um mundo cujos valores se tornam confusos nesse
emaranhado de informações desencontradas, como podemos nos aprimorar para
evitar erros de outros tempos? O grande desafio agora é saber que tipo de ser
humano pretendemos formar para as próximas gerações e que legado deixaremos a
elas. É chegada a hora de repensar uma
“nova velha educação”, aos moldes da Akademeia
grega, que instigue no ser humano novos direcionamentos, para que mais uma vez,
possamos provar a nós mesmos que temos a capacidade e a obrigação de sermos
melhores.
*Ensaio produzido para o curso de pós-graduação latu sensu em Ensino de Língua Inglesa da UFT - Universidade Federal do Tocantins - Campus Porto Nacional.