segunda-feira, 28 de junho de 2010

EMPRÉSTIMO


Dona Maria de Lourdes só queria fazer um empréstimo.

Merendeira de uma escola pública estadual, ansiava por sua aposentadoria. Já tinha dado entrada nos papeis junto ao INSS, mas o processo era lento. Então paciência. Já era a quarta vez que ela ia ao banco. Sempre faltava alguma coisa. Ora era o cadastro que estava desatualizado, ora era algum outro documento, ora era porque o expediente encerrava e não a atendiam. Ela reclamava, xingava (entre dentes) a atendente, o gerente do banco, os guardas, o governador, o presidente.

As coisas estavam cada vez mais difíceis. Ajudava os três filhos. Sabe como é: mãe é mãe. O mais novo, inconseqüente, foi pai aos 17. Estudava (pelo menos isso), mas estava desempregado. Ela quem sustentava.

D. Maria impacientava-se. Já havia duas horas na fila. Demorou, mas chegou a sua vez. A moça do banco analisava a papelada. D. Maria estava nervosa. Tinha que sair dali com aquele dinheiro.

Ainda não fora daquela vez. Faltava uma assinatura. A moça do caixa pediu gentilmente a senhora que viesse no dia seguinte. Mais outra demora, pensara consigo.
Voltou para casa bem mais tranqüila, pois ia conseguir o bendito empréstimo. Pouco importavam os juros abusivos cobrados pelo banco. Ela só queria ajudar os filhos, como toda boa mãe faz.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, discutia-se como aumentar os lucros dos grandes banqueiros internacionais. Tudo regado a caviar e champanhe. Francês, é lógico.

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