
Dona Maria de Lourdes só queria fazer um empréstimo.
Merendeira de uma escola pública estadual, ansiava por sua aposentadoria. Já tinha dado entrada nos papeis junto ao INSS, mas o processo era lento. Então paciência. Já era a quarta vez que ela ia ao banco. Sempre faltava alguma coisa. Ora era o cadastro que estava desatualizado, ora era algum outro documento, ora era porque o expediente encerrava e não a atendiam. Ela reclamava, xingava (entre dentes) a atendente, o gerente do banco, os guardas, o governador, o presidente.
As coisas estavam cada vez mais difíceis. Ajudava os três filhos. Sabe como é: mãe é mãe. O mais novo, inconseqüente, foi pai aos 17. Estudava (pelo menos isso), mas estava desempregado. Ela quem sustentava.
D. Maria impacientava-se. Já havia duas horas na fila. Demorou, mas chegou a sua vez. A moça do banco analisava a papelada. D. Maria estava nervosa. Tinha que sair dali com aquele dinheiro.
Ainda não fora daquela vez. Faltava uma assinatura. A moça do caixa pediu gentilmente a senhora que viesse no dia seguinte. Mais outra demora, pensara consigo.
Voltou para casa bem mais tranqüila, pois ia conseguir o bendito empréstimo. Pouco importavam os juros abusivos cobrados pelo banco. Ela só queria ajudar os filhos, como toda boa mãe faz.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, discutia-se como aumentar os lucros dos grandes banqueiros internacionais. Tudo regado a caviar e champanhe. Francês, é lógico.