terça-feira, 24 de julho de 2012

Memórias de uma eterna batalha do porvir

De vez em quando dá um estalo no juízo
e a cabeça pensa
o tanto de coisas
que poderia ter feito
das pessoas que poderia ter influenciado
das atitudes que poderia ter tomado
das vontades que ficaram só na vontade
por falta de oportunidade e de coragem
dos dias de sol que poderia ter aproveitado
das tardes de chuva que poderia ter corrido na rua
ter sido criança de novo
de disseminar o desejo de um mundo diferente
de insistido um pouco mais
no que poderia ter sido mas não foi.
Não porque não quisesse:
mas porque simplesmente
quando ecoavam seus brados retumbantes
cantados em alto e bom tom numa certa ode à pátria
não lhe deram ouvidos.
Foi visto apenas
como uma pedra no sapato
sem utilidade
e facilmente descartado
que ao ser sugado, explorado e humilhado
perderia sua força
sua visão revolucionária
e que muito em breve
quando estivesse cercado
da inerte apatia comum aos que se deixam levar pela força comodista,
se calaria
ou desistiria de sua empreitada na terra
onde os sonhos não passam de sonhos
soterrados na aparente e hipócrita felicidade
sustentada pela perda da dignidade ante o poder capital
que esconde a violência dentro das suas casas protegidas por muros, cercas
e uma camada de maquiagem sobre as fezes proferidas
em tempos de carros de som.
O tempo não levou embora a revolta
O tempo não levou embora a indignação
O tempo não levou embora a esperança.
O tempo serviu para preparar sua alma
    para outras batalhas
    em outros reinos
    onde os outros corações
    sofrem dores parecidas
    com as que ele enfrentou.
A luta não acaba pr'aqueles que acreditam na sua força interior.